Permanente

Uma cortina branca acolheu o Sol
E o acompanhou até o último raiar
Sem pressa…
Sem alarde…
Sem temer a escuridão
O dia não parte sem estender o tapete
Onde estrelas indicarão os rumos
No silêncio…
Na paz…
No conforto dos sonhos
A vida, na verdade, é uma emenda só
Nada começa, nem termina, apenas segue em frente

Devaneios Marítimos

Estamos aqui navegando na vida
Um dia tempestade, outro calmaria
E um vento que sempre muda de opinião

Um horizonte de destinos
Estrelas iluminando caminhos
E nenhum mapa com direção

O fato é que o mar pode nos levar
E entre ondas e marés, nos perder
Entre sonhos e esperanças, nos afogar

Precisamos aproveitar os momentos de controle
Decidir enquanto é tempo, remar enquanto há forças
Ser capitão deste agora antes que passe

O tempo é um piscar de olhos
A chance, um descuido do acaso
Nem sempre há portos para âncora

Mas aqui tudo é possível
Basta colocar o coração no leme
E o amor há de te guiar

“Um novo ano”

Ele finalmente está aqui. Mas nada é finalmente quando faz parte de um todo. Eu não conseguiria nem começar a separar o que foi do que é. Não posso negar nenhum erro, esconder nenhuma cicatriz. Os aprendizados, os sorrisos, carrego tudo comigo. O fato é que muito do tempo que a gente conta, a gente nem repara que passa. Neste fim, que não deixa de ser começo e na verdade é meio; Temos a oportunidade de respirar e olhar nossos detalhes. A vida lá fora está tão inerte que alguém diria que o mundo também parou. Nesta brecha de tempo e espaço encaixamos nossos planos. Da gratidão do conquistado partimos para os sonhos, traçamos uma linha no desconhecido. É importante saber onde se quer chegar. É importante aceitar que os caminhos são muitos e que mudar não é um fracasso, mas sim o sucesso de encontrar uma saída para ser feliz. Talvez o que finalmente tenha chegado, ao menos para mim, seja a consciência de aproveitar e apreciar tudo de belo e sincero que já faz parte de mim. Das pessoas aos sentimentos que preenchem minha alma. Estou diante uma folha virada em um caderno cheio de histórias. E se você me permitir um conselho, antes de começar o próximo parágrafo, permita-se um instante para abraçar todo o seu ser, encontrar paz e perceber que está bem. O que você guarda no coração é a chave para todo resto. Perseveremos!

Persistência

A palavra é livre
Não está presa no seu olhar
Não precisa de voz pra ser ouvida
Ela vence o tempo
Marca a memória
Invade a alma

Então porquê desse silêncio?
Por que não se desfazer da saudade?
O que te impede de libertar a alma?
Tira esse amor da gaveta
Lembra alguém de que não está só
Traz o sonho para realidade

A palavra é sinal de vida

Imaginação

Meu sonho era essa palavra?
Foi, desfez, esqueci?
Qual tua distância da ilusão?
A mesma do coração?
Quis pouco ou quis demais?

Ainda dói
Antes nunca tivesse acordado
A realidade é meio torta
E você, frágil as críticas
É triste o que deixei pelo caminho

Hoje na encruzilhada
Penso, o que era só meu?
O que só eu imaginei?
O que tanto procurava?
Achei ou me perdi?

O erro é ser tão feliz no meu sonho?
Ou não saber construir a realidade?
Será que no fim é tudo medo?
Desvio….para que não te acabes?
Durmo….para não acordar?

Eu acreditei a ponto de me magoar
Eu imaginei ao ponto de sorrir
Eu fiz viver miseravelmente incomparável
Estúpido dom de emular o sentir
Nunca precisei fechar o caderno
Nunca precisei de um verso a mais

Lua Cheia

Ao virar na avenida principal tinha uma Lua do tamanho de um planeta. Refletindo a luz de um Sol que ainda se escondia. Amarelada no topo dos prédios do centro da cidade, parecia uma pintura, um filme, uma ilusão. Mas entre tudo que nossa mente nos engana, de tudo que o homem criou, é fácil distinguir a natureza. Ela respira junto, ela sente, ela se comunica na sua imensidão e grandeza. Tudo a sua volta parece pequeno, mundano, corriqueiro. Conforme o carro avançava ela foi se misturando no horizonte, até ser essa lembrança. A Lua não gosta de câmeras. Sempre fica como um mero detalhe nas fotos. A realidade da sua presença, a beleza que colocou no meu amanhecer, não pode ser registrada. Ficam apenas essas palavras insuficientes diante uma vida que antes de tudo, sente.

Retrato Falado

Não tem idade
É preconceituoso e racista
Escravocrata e privilegiado
Intolerante e violento
Culpa a pobreza na qual se apoia
Quer leis pro outro
Tem fé, mas não tem amor
Pede respeito sem dar
Se diz inteligente, mas não usa razão
É solidário ao mesmo tempo que fecha a mão
É orgulhoso demais
Do status que herdou
E acredita que miséria é merecimento
Se sustenta na ignorância do próximo
Desvaloriza a vida
Dá risada das consequências
É tão cheio de si ao ponto da ingenuidade
Acredita no bicho papão da guerra fria
Acredita na palavra de quem faz segredo
Prefere uma boa ilusão a qualquer verdade
Prefere não se importar
Vive da imagem e não de convicção
Enche a boca no discurso
Se atrapalha todo na argumentação
É angustiante ver sua cegueira
Sua falta de cidadania
Seu senso desbalanceado de justiça
Seu ódio
O mais triste dessa imagem
É que é um reflexo no espelho
Da sociedade brasileira
Sem exceções
O que nos difere é o voto
O voto na manutenção desse sistema desigual e opressor
Ou o voto na esperança que possamos ser algo um pouco mais digno
(Pro povo voltar a sorrir de novo)

Fundamento

Em algum canto
Tem um pedaço de mim que acredita
Não posso dizer que ele seja racional
Muito menos que ele não tenha razão
Às vezes parece que ele mais quer do que sabe
Na maior parte do tempo ele sente mais do que tudo
É incoerente lhe dar atenção
Mas o espaço que ocupa
Não dá a dimensão da sua presença
Ele guarda sonho, desejo, sorriso, esperança
Já pensei ser a parte de mim que não quer aceitar
Ou mesmo meu lugar de ilusões e fantasias
Na verdade é meu quinhão mais íntegro
Que fica depois que toda raiva e tristeza se dissolve
Algumas vezes sua voz é mais fraca
Outras tantas penso que não vou mais encontrá-lo
Mas como uma rocha indivisível ele permanece
Mais forte que qualquer argumento
Mais verdadeiro que qualquer palavra
E se minha única certeza nessa vida
For sempre encontrar ele em minha alma
Será suficiente para saber que encontrarei felicidade